“Cristo, único fundamento da Igreja.” (Cf. 1Cor 3,11)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Viver vale a pena

Você estaria diposto a gerar um filho se lhe fosse revelado que ele morreria de uma doença grave aos 18 anos? Já ouvi alguma vez que há casais que, por temerem o nascimento de filhos com alguma anomalia, negam-se a gerá-los. Acabo de conhecer a história de uma linda jovem que morreu em conseqüência de um câncer que aos poucos foi invadindo todos os seus ossos. Seus pais, Maria Tereza e Ruggero, moradores de uma pequena cidade, - Sasselo -, a sessenta quilômetros de Gênova, Itália, depois de 10 anos de casados, pediram a Nossa Senhora a graça de um filho. Veio uma filha (1971) que recebeu, no batismo, o nome de Chiara Badano. Cresceu banhada pelo carinho e alimentada pela fé de seus pais.

Aos nove anos conheceu o movimento dos Focolares, movimento nascido do coração de outra Chiara, a Lubich, em plena guerra. Começou a participar do gen 3 de Gênova. Um dia disse à sua mãe preocupada por deixá-la sozinha para um desses encontros: “Mamãe, eu não estou sozinha, Jesus está aqui”. A menina foi crescendo em idade e graça. Aos doze anos, depois de ter participado de um Congresso do gen 3, escreveu a Chiara Lubich: “Redescobri Jesus abandonado de um modo especial e o senti em cada próximo que passava a meu lado” e algum tempo depois: “Descobri que Jesus abandonado é a chave da unidade com Deus e quero escolhê-lo como meu primeiro esposo e preparar-me para quando Ele vier”. Tornou-se uma dolescente feliz, com muitos(as) amigos(as). Jogando tênis - era o final do verão europeu de 1988 -, sentiu uma dor muito forte nas costas.

Mais tarde foi diagnosticado: sarcoma osteogênico com metástase. Veio a cirurgia com as quimioterapias. O médico lhe disse que perderia os cabelos. Foi quando tomou consciência da gravidade da doença. Sua mãe conta: “perguntei-lhe como tinha sido. E ela: ‘agora, não. Não fale agora e jogou-se na cama com os olhos fechados. Ficou assim vinte e cinco minutos...Depois ela voltou e me sorriu: ‘agora pode falar’. Ela conseguiu! Disse novamente seu sim”. E não voltou mais atrás. Os dois anos que se seguiram foram de dores e de graça. Passo ao leitor palavras de jovem Chiara durante a enfermidade. Escreveu a Chiara Lubich: “Jesus me mandou esta doença no momento certo. Mandou para que eu o encontrasse”. Seu último Natal foi no hospital. Visitando-a, o bispo de Turim lhe perguntou: como você consegue essa luz maravilhosa nos olhos e ela: “procuro amar Jesus”. Escreveu assim aos companheiros do gen 3 de Gênova: “Sinto muito forte a unidade de vocês, o dom de vocês, as orações de vocês que me possibilitam renovar o meu ‘sim ‘, a cada momento”.

Certa feita, devendo passar por uma pequena cirurgia, com anestesia local,sentiu muito medo.E conta: “uma senhora, linda, linda, com um sorriso luminosíssimo, aproximou-se, segurou minha mão e me encorajou”. Pensou ser uma senhora do movimento. Mas, aquela senhora. como viera, desaparecera. “No entanto, uma alegria intensa me invadiu”. A doença avançava implacavelmente. E ela: “Se eu tivesse de escolher entre caminhar - ela estava paralisada no leito - ou ir para o paraíso, escolheria sem hesitar ir para o paraíso. A essa altura é o que me interessa...Mas tomo cuidado em dizer isso, porque talvez pensem que eu queira ir embora para não sofrer mais. Não é bem assim. Quero ir ter com Jesus”.

Os últimos meses, ela os passou em seu quarto em Sasselo, de onde falava por telefone com os amigos do gen 3. Um dia sofreu forte hemorragia e esteve às portas da morte. Foi quando disse: “Não derramem lágrimas por mim. Eu vou para Jesus, começar uma outra vida. No meu funeral não quero gente chorando, mas gente cantando bem alto. Ontem, eu estive lá, na soleira da porta, mas a porta ainda não se abriu”. Ela pediu a Chiara Lubich que lhe desse um nome novo e Chiara lhe escreveu: “Chiara Luce é o nome que pensei para você. É a luz do ideal (da unidade) que vence o mundo”.

Consciente de que caminhava para o paraíso, afirmou: “não vejo a hora de chegar ao paraíso...”, e conversou com a mãe como deveria ser seu funeral: queria ser sepultada com vestes de núpcias, pois aprendera que Jesus era o esposo que vinha a seu encontro. São suas essas palavras: “mamãe, quando estiver me preparando no meu leito de morte, repita sempre: ‘agora, Chiara Luce está vendo Jesus’”. As córneas de seus olhos - era o que restava de saudável em seu pobre corpo -, ela as doou antes de morrer. No final quis ficar a sós com o seus e se despediu - 07.10.1990 - assim de sua mãe : “Tchau, seja feliz porque eu sou feliz”.

Meu pensamento final: quem não crê em Deus e na vida eterna tem razão de não querer filhos. Por que tê-los, se morrerão um dia? Esta vida é boa porque é caminho para uma plenitude sem fim. Chiara Luce será proclamada bem-aventurada no dia 26 de setembro deste ano. Seus pais estarão presentes na solenidade.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues.

Fonte: Site da CNBB.

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