“Cristo, único fundamento da Igreja.” (Cf. 1Cor 3,11)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Só Jesus é a Vida

O sucesso de sua ação será assegurado ‘a medidas que se encher o reservatório de vosso espírito. De fato, a vida interior é que dará força para o apostolado, pois essa vida é a base da santidade do operário evangélico: a vida interior previne – o contra os perigos do ministério exterior, revigora e multiplica as suas energias, dá-lhe consolo e alegria, confirma sua pureza de intenção, é escudo contra o desânimo, é condição necessária para a fecundidade da ação, atrai as bênçãos de Deus, torna o apóstolo santificador e produz nele irradiação sobrenatural.
Deus quer que Jesus dê a vida às obras. O Divino Mestre, dizendo: "Ego veni ut vitam habeant" (Jo 10, lo), "Ego sum Via, Veritas et Vita" (ibid. 14, 6), quis esculpir, na mente de seus Apóstolos, um princípio fundamental. Só Ele, Jesus é a vida; por conseguinte, para participar desta Vida e comunicá-la aos outros, estes devem ser enxertados no Homem-Deus.
Paulo VI
Ao Pontifício Colégio Pio Brasileiro
www.vatican.va Arquivo dos papas, 28/04/1964

sexta-feira, 19 de março de 2010

Criados como dom: O desafio dos relacionamentos (parte 5- 5)

Desapegar-se

Se assim agirmos nas pequenas escolhas de cada dia, isto se transformará em nosso modo de ser estaremos verdadeiramente mortos a nós mesmos, para doar-nos sem impedimentos. “É necessário desarmarse...– dizia com profunda sabedoria o Patriarca Atenágoras de Constantinopla –. Não tenho medo de nada, porque o amor afasta o medo. Estou desarmado da vontade de apostar, de justi' car-me à custa dos outros.

Não estou mais atento e ciosamente apegado às minhas riquezas. Acolho e partilho. Não me apego particularmente às minhas idéias, aos meus projetos. Se são apresentados outros melhores, os aceito de boa vontade. Ou antes, não melhores, mas bons. Vocês sabem que eu renunciei a ' car comparando”5.

Se hoje vocês participam deste Congresso, certamente já ' zeram escolhas importantes e superaram obstáculos. Mas a cada dia vocês vão encontrar-se diante de novas escolhas. E, para isso, será preciso coragem e paciência.

Coragem e paciência

Coragem para aceitar a vocês mesmos comosão: com a serenidade de ter consciência de que são olhos de um Deus que ama exatamente a vocês; e para conhecer, aceitar e amar os outros diferentes de vocês.

Coragem, pois, para mudar naqueles aspectos que não permitem a vocês de entrar em relação com os outros; para ajudar os outros a mudar.

Paciência para recordar-se que uma longa viagem começa com um pequeno passo feito no presente.

Paciência para poder retomar o caminho quando se erra, sem fechar-se num “não consigo”, mas dizendo: ainda não consegui, mas posso conseguir”.

Assim, vocês viverão uma aventura única; mortos para vocês mesmos para doar-vos a Deus e aos irmãos, experimentarão a luz e alegria que o amor vos traz através deles; e vos alegrareis pelos frutos e frutos que jamais teriam dado, apoiando-se somente em vossas capacidades. Verdadeiramente o grão de trigo que morre produz muito fruto!6

Uma aventura que não acabará nesta terra, mas prosseguirá no Céu, onde permanecerá somente o amor e o nosso ser-em-relação, manifestar-se-á em toda sua beleza, como vocês descobrirão sempre mais nestes dias.

5 Atenágoras I – cf. O. Clément, Dialoghi com Atenágoras, Gribaudi,Torino 1972.

6 Cf. Jo 12 ,24.

Criados como dom: O desafio dos relacionamentos (parte 4- 5)

Relacionamentos autênticos

Então é claro, que estabelecer relacionamentos autênticos com quem encontramos, não é somente um gesto de cortesia ou um modo de mostrar-nos sociáveis e disponíveis: este é o nosso ser, a nossa vida.

Portanto, eu sou se amo! Realizar-me-ei estando em relação com os outros: doando e também recebendo. De fato, experimentamos isto a cada dia e psicólogos e pedagogos ressaltam que é o outro que permite à nossa identidade a' rmar-se e desenvolver-se.

É no vulto do outro que eu me encontro. Portanto, o desa' o dos relacionamentos é, de' nitivamente, o desa' o da vida. É importante saber isto para, a cada dia, poder fazer as escolhas justas. Assim, em cada momento poderemos dizer sim ao outro ou fechar-nos em nós mesmos, talvez justi' cando isso com bons motivos.

Podemos estudar para conhecer e saber mais dos outros, ou podemos fazê-lo para poder doar aquilo que apreendemos; podemos buscar uma boa posição, ou colocar-nos a serviço; podemos impor a nossa idéia, ou podemos pospô-la para compreender profundamente a do outro...

Criados como dom: O desafio dos relacionamentos (parte 3- 5)

Somos se amamos

Nós somos se amamos: se vivermos não entre ou com os outros, mas pelos outros. Esta realidade foi plasticamente expressa através de uma expressão de Chiara pronunciada no ano 1949: “Percebi que eu fui criada como dom para quem está ao meu lado; e quem está próximo de mim foi criado por Deus como dom para mim. Como o Pai na Trindade é todo para o Filho e Filho é todo para o Pai4.

Não fomos criados como indivíduos que antes se realizam e depois se doam, mas, desde a eternidade, fomos pensados por Deus na relação com os outros.

Deste modo, podemos dizer que a relação possui uma prioridade ontológica: a nossa essência como pessoa, não se esgota no nosso ser, mas é definida pelas relações com Deus e com os outros.

O caminho da nossa realização, mesmo que inicialmente possa parecer absurdo, arte do esquecer-nos de nós mesmos, do estarmos mortos, porque inteiramente doados.

4 Lubich C., Scriti Spirituali/ 1, Città Nuova, Roma 1991/3, pg.134.

quinta-feira, 18 de março de 2010

CRIADOS COMO DOM: O desafio dos relacionamentos (parte 2 de 5)

Vencer o individualismo. Assim, vivendo individualmente entre ou também com os outros, nunca se chegará à plena realização, nem se chegará a realizar o plano que Deus pensou para nós.Então, voltemos às origens do ser pessoa, relendo no livro do Gênesis uma expressão que bem conhecemos, mas que, se a entendermos profundamente, não pode não nos maravilhar: “Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”2.

Imagens de Deus-Amor. Fomos criados à imagem de Deus, de um Deus que é amor, que é Trindade! Mas como se concretiza isto em nós? Quero deixar a palavra a Chiara Lubich: “O Pai – comenta – gera o Filho por amor: saindo totalmente de si, por assim dizer, se faz, num certo modo, ‘não ser’ por amor; mas é exatamente assim que é Pai. O Filho, por sua vez, qual eco do Pai, retorna ao Pai por amor, também ele se faz, de certo modo, ‘não ser’ por amor e, exatamente assim, é Filho;...”3.

Portanto, quando procuramos nos colocar no centro, de impor-nos, de defender a nossa realização, de talvez, nos tornar cristãos ardorosos..., estamos percorrendo a estrada na direção errada. Quanto mais formos em direção a nós mesmos, menos somos. Se, ao contrário, segundo a imagem da relação entre as Pessoas divinas, percorremos a estrada que nos faz sair de nós mesmos para doar-nos aos outros, então somos.

2 Gn 1, 27.

3 Lubich C., Spiritualità dell’unità e vita trinitaria. Lezione per la Láurea h.c. in Teologia, Nuova umanità XXVI (2004/1) 151.

quarta-feira, 3 de março de 2010

CRIADOS COMO DOM: O desafio dos relacionamentos (parte 1 de 5)

Francesco Châtel



“Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1 Jo 4, 16). Estas palavras da primeira Carta de João exprimem com particular clareza o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e, também, a consequente imagem do homem e de seu caminho. (Bento XVI, Deus caritas est, 1)

O anúncio de Deus Amor, que ressoa potente na primeira encíclica do Papa Ratzinger como em toda a história do Movimento dos focolares, pode mudar profundamente o nosso modo de ver a nós mesmos e à realidade que nos circunda.

No entanto, se olhamos para o nosso mundo, a realidade do amor parece obscurecida não só pelas guerras e injustiças, mas por uma tendência sempre mais planetária para o individualismo e para refugiar-se no âmbito particular. Apesar da crescente possibilidade de

conhecer-se e encontrar-se, graças ao desenvolvimento contínuo dos meios de transporte e de comunicação, experimentamos frequentemente a sensação de habitar uma praça barulhenta e cheia de gente na qual parece difícil estabelecer relações autênticas.

Dificuldade de relações autênticas

Isto atinge em particular, muito jovens que correm o risco de encontrar-se isolados no meio da multidão, com uma consequente tendência a voltar-se sobre si mesmos1 , na busca da própria realização, no fechar-se, talvez, no pequeno grupo dos bons, apoiando-se em espiritualidades prevalentemente individuais, ou no deixar-se arrastar, segundo o modo de viver da maioria.

“O que faço para ser feliz e realizado?” Esta é uma pergunta que ouço os jovens que encontro ou que me escrevem repetirem muitas vezes. Exigência justa em si, mas que parte da idéia de que cada um vive entre tantos e que deva construir o seu caminho ao lado do caminho dos

demais, frequentemente defendendo-se ou isolando-se.

Depois, existem muitos que descobrem que podem viver não entre, mas com os outros e procuram conhecer e encontrar quem lhe está próximo. Contudo, muitas vezes, eles se bloqueiam quando à própria ação não corresponde a reação esperada: “Para que ser-

ve amar, se os outros se aproveitam disto? Porque eu devo fazer tudo na minha casa (ou comunidade, ou trabalho, ou universidade) enquanto os outros pensam somente em si mesmos?”.

1 Com consequente re uxo no particular e no egocentrismo, como ressaltam tantas pesquisas feitas em diversos Países. Na Itália: cf. “Rapporto giovani. Sesta indagine dellIstituto IARD sulla condizione giovanile in Itália”, aos cuidados de Buzzi C., Cavalli A., de Lillo A., Bologna, Il Mulino 2007.

A partir de hoje será colocada uma serie de artigos publicados na Revista Perspectivas de COMUNHÃO - Revista de Espiritualidade e Pastoral -Ano XIV - Jan/Fevereiro 2010 - n.1.