“Cristo, único fundamento da Igreja.” (Cf. 1Cor 3,11)

sábado, 19 de novembro de 2011

O meu relacionamento com Maria


Castelgandolfo, abril de 2003

É a minha função neste momento expor algumas idéias sobre o meu relacionamento com Maria e o rosário.


Muitos certamente me conhecem. Mas para aqueles que não me conhecem, creio que seja necessário me apresentar.

Sou Pasquale Foresi, primeiro sacerdote do Movimento dos Focolares, ordenado por Dom Carlo de Ferrari, em 1954, em Trento, onde nasceu esta Obra.

Por ser sacerdote, eu fui encarregado de ter os primeiros contatos do Movimento com a Santa Sé.

Outra função especial foi aquela de seguir, como membro do Centro da Obra, o desenvolvimento do Movimento no mundo e colaborar, diretamente com Chiara, na redação dos vários Estatutos. Pude também dar vida e seguir obras concretas a serviço do Movimento, tais como o Centro Mariápolis para a formação dos membros em Rocca di Papa, a Mariápolis permanente de testemunho em Loppiano, a Editora Cidade Nova em Roma e outras obras que foram se multiplicando no mundo.

E agora conto algo sobre a pequena história do meu relacionamento com Maria e o Rosário, história que, a meu ver, como outras que aqui são contadas, não pode deixar de fazer referência a uma vastíssima realidade que num Congresso Mariano, como é o nosso, é preciso mencionar: o perfil mariano da Igreja. De que se trata?

O teólogo Hans Urs Von Balthasar afirma que Jesus ressuscitado, presente aqui na Terra na Igreja até a consumação dos tempos, de alguma forma, deve estar circundado por aquelas figuras que estavam com ele durante a sua vida terrena. Não só pela figura de Pedro, por exemplo, que é representado pelo Papa, mas também por outros, tal como Paulo, João, Tiago, por exemplo, e Maria. Com cada um deles Jesus tem um relacionamento preciso e, com Maria, é muito especial.
É o que diz João Paulo II na Mulieris dignitatem, quando afirma que o perfil mariano é «tão fundamental e caracterizador – se não for mais – quanto o perfil apostólico e petrino, ao qual está profundamente unido». Aliás, numa alocução dirigida em 1987 aos cardeais e aos prelados da Cúria Romana se lê: «Maria precede qualquer pessoa e, obviamente, inclusive Pedro e os Apóstolos... A Igreja – continua João Paulo II – vive deste autêntico "perfil mariano", desta "dimensão mariana"... O vínculo (entre o perfil mariano e petrino) é estreito, profundo e complementar...».

O perfil mariano é evidente na santidade dos beatos, dos místicos e dos fundadores. Vem em relevo também quando um novo impulso profético desabrocha na Igreja, como, por exemplo, as Ordens Religiosas ou os novos Movimentos eclesiais. É o que se vê ainda no empenho dos leigos em "cristificar" o mundo e não só.

O perfil mariano está presente, portanto, também nos Movimentos.

O próprio Urs von Balthasar faz essa menção, citando pessoas já falecidas e outras ainda viva, portadoras de carismas.

Mencionando explicitamente o Movimento dos Focolares, ele enfatiza os diálogos, especialmente com fiéis de outras religiões, como com os budistas (o mais difícil, na sua opinião) e com os que não crêem.

E aqui surge uma pergunta: se inclusive as nossas realidades eclesiais são uma expressão do perfil mariano da Igreja, por que não podemos supor que quem delas fazem parte não tenha um relacionamento privilegiado com Maria, a mãe carismática por excelência? É o que também eu espero.

Se for assim, é mais fácil compreender a origem das nossas experiências. Falar de Maria e do Rosário, na minha vida, é relembrar o período em que, quando eu tinha dois ou três anos, aprendi dos meus pais a recitar o pai-nosso e a ave-maria. Ainda lembro do entusiasmo e dos afagos que me faziam quando, admirados, viam que eu recordava exatamente de todas as palavras dessas orações.

São muitos os episódios que revelem o meu relacionamento com Maria. Por exemplo, sempre aos três anos, eu recitava a ave-maria em público diante de um presépio, como tinham me pedido. Ou mais tarde, orgulhoso por participar dos momentos de oração dos adultos, eu recitei com a minha família o rosário. Ou ainda, quando superei brilhantemente um exame difícil para mim, após ter pedido a ajuda de Maria.

Da época do ensino superior, eu não me lembro de nada. Porém, lembro que quando eu tinha 15 anos – para a grande preocupação dos meus –, saí de casa, atraído por um Ideal: combater pela Itália. Estive longe da minha família por quase dois anos. De dia eu dormia e de noite eu fazia sentinela.

Visto que o tempo não passava, comecei a recitar o rosário. Eu o fiz por várias noites. E aconteceu algo singular: eu me senti transportado, como se o céu me envolvesse e me iluminasse. Eu pensei, então, que aqueles que trabalhavam de noite e recitavam o rosário, fizessem a minha mesma experiência.

Só depois de algum tempo é que percebi que terá sido uma graça especial, porque, junto com o desejo de rezar, nasceu em mim a vontade de consagrar-me completamente a Deus. Eu me sentia indigno, mas Maria me ajudou.

De fato, tendo lido a vida de Santo Inácio de Loiola, o qual, sendo também ele militar, a certa altura quis doar-se a Deus, eu pensei em fazer o mesmo. Voltei para casa e primeiro entrei para o seminário de Pistóia, depois estudei no Colégio Caprânica, em Roma.

Eu estava contente e satisfeito com a minha escolha. A certa altura, porém, não é que tive uma crise de fé, mas mudei de idéia. Recordo que li com grande interesse o Evangelho. A certa altura, confrontando- me com ele (era o período pré-conciliar; depois, o Concílio trouxe uma grande e maravilhosa renovação) tive a impressão de que a Igreja não era o que devia ser. Eu não sabia se conseguiria ser sacerdote com esta dificuldade no coração e interrompi momentaneamente os estudos.

Nesse período, conheci o Movimento dos Focolares, que teria assumido o nome oficial de Obra de Maria. Era uma nova realidade carismática que, como muitas outras, o Espírito Santo suscita no tempo para fazer amadurecer na Igreja a autenticidade e o radicalismo da vida evangélica. De fato, eu notava nas pessoas que pertenciam ao Movimento uma fé absoluta na nossa Igreja católica e, ao mesmo tempo, uma vida evangélica radical. Compreendi assim que aquele era o meu lugar e a idéia de ser sacerdote logo voltou.

Também nessa ocasião Maria não estava ausente.

Em 1954, quando eu estava fazendo os exercícios espirituais, prescritos para me tornar sacerdote, estive num convento para me preparar. Eu me sentia só, pois estava longe do Movimento e do focolare, onde, pelo nosso amor recíproco, havia Jesus em meio. Portanto, experimentei o desânimo e o gelo. Mas também ali tive uma impressão forte. Uma experiência espiritual tão bela que iluminou toda a minha vida.

Depois, a oração do rosário me ajudou muito a realizar, como sacerdote, a função de ser um ponto de contato entre o Movimento e a Igreja a fim de obter a sua aprovação. Quando encontrava dificuldades, eu dizia: «É preciso rezar mais!» E rezar significava recitar o rosário.

Ainda hoje o rosário é uma oração especial para mim. Sou grato a Maria, porque quase sempre, quando recito o rosário, sinto crescer em mim a união com Deus, de forma que depois de ter recitado os quatro mistérios, sinto vontade de recomeçá- los. Não o faço para não sobrecarregar, com um maior número de orações, a vida dos meus companheiros.

Ultimamente eu tinha me perguntei porque razão o Papa ainda não tinha escrito um documento sobre o rosário, visto que outros papas o tinham feito. Exatamente naqueles dias, João Paulo II anunciou que teria dedicado um documento ao rosário. Aliás, teria acrescentado os cinco mistérios luminosos.

Depois de mim, muitos outros focolarinos tornaram-se sacerdotes a serviço da Obra de Maria. Se podemos e devemos dar a nós mesmos uma definição, ela seria: «ser sacerdotes de Maria». De fato, sentimos que a nossa função é «levar – como São João – Maria para casa». E isso quer dizer, como explicou João Paulo II na sua Encíclica Redemptoris Mater, agir como o apostolo predileto, que acolhe «entre as suas coisas próprias» a Mãe de Cristo e a introduz em todo o espaço da própria vida interior, isto é, no seu "eu" humano e cristão11.
Assim. E ainda «levar Maria para casa», guardando no coração, protegendo e enriquecendo, com a graça de Deus, o tesouro da sua presença na Obra de Maria.

Terminei.

Que Deus faça com que o nosso Movimento, com todas as outras realidades eclesiais que são expressões do perfil mariano, seja cada vez mais digno de representar Maria na Igreja e no mundo!

Padre Foresi

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